sábado, 21 de outubro de 2006

Filosofia para Crianças

Pimpa
Matthew Lipman, tradução: Maria Luísa Abreu
Centro Português de Filosofia para Crianças, SPF, 1994 (esgotado)



Escrita para crianças entre os sete e os nove anos de idade, Pimpa tem em comum com as outras histórias que constituem o programa Filosofia para Crianças o facto de servir de base à construção de um diálogo filosófico. Nela se encontram habilmente integrados, em linguagem vulgar, temas, problemas e conceitos que são património do pensamento filosófico ocidental. De destacar entre estes últimos, os de tempo, espaço, corpo, mente, pessoa, identidade verdade, mentira, real, liberdade, direitos, justiça, amizade, conceitos esses que têm a ver com a vivência de cada um, independentemente do seu nível etário. Acresce que a inclusão deliberada de várias situações em que os personagens evidenciam diferentes tipos de raciocínio – analógico, dedutivo, indutivo, etc. – facilita o seu efectivo exercício por parte dos leitores. Mais, as conversas de Pimpa e dos seus amigos ilustram, no geral, uma atitude inquisitiva face ao conhecimento, tanto daquilo que os rodeia como de si mesmos.

Não sei quanto tempo fiquei assim sentada, mas deve ter sido um bom bocado. De repente, lembrei-me que estava na aula e então dei-me conta de uma coisa muito estranha. Sabem o que foi? O meu braço tinha adormecido.
Ainda hoje não consigo compreender isto. Se toda eu estava acordada, como é que uma parte de mim estava adormecida? O meu braço estava mesmo a dormir. Eu não podia mexê-lo. Parecia que estava pendurado no meu ombro. Nem sequer o conseguia sentir, quer dizer, sentia só um pequeno formigueiro.
Já alguma vez tiveram um braço dormente? Não é estranho? Até parece que não nos pertence. Mas como é que uma parte de nós pode não nos pertencer? Tudo o que é nosso pertence-nos. Isto é que me intriga: o meu corpo e eu são o mesmo ou não são. Se o meu corpo e eu são a mesma coisa, então ele não pode pertencer-me. E se o meu corpo e eu são diferentes, então quem sou eu? Começa a parecer-me que eu é que sou uma criatura misteriosa!


Matthew Lipman, Pimpa, tradução: Maria Luísa Abreu, Capítulo 1, pág. 8, 1994

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